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[Alzheimer] Lembranças da minha Casa – Papo de Cuidador
- 10 de abril de 2019
- Posted by: Alzheimer360
- Category: Cuidador
“Tanto faz o dia em que estamos, mamãe me pergunta o tempo todo que dia é esse. Ela está vivendo em um tempo fora do tempo, em um espaço quase sem lembranças.
Por mais que procure algo familiar aqui na minha casa, ela não o encontra, quer as amigas, o cheiro de fumaça de caminhão, o barulho do escapamento, este lugar não cabe no coração dela.
É como se flutuasse acima do mundo real e se protegesse de tudo com esse manto de insanidade.
Ela tenta se agarrar às lembranças das avós, dos irmãos quando eram crianças, na tentativa de resgatar a mulher que ela está perdendo.”
Míriam Morata Novaes in Alzheimer diário do esquecimento
Meus pais pediam insistentemente, para eu leva-los de volta para casa.
Papai nunca saiu de sua casa, mas a casa saiu dele; mamãe morava comigo, mas nunca saiu daquela casa, que ela sonhava retornar.
Aos poucos eu fui entendendo o que significava “voltar para casa”. Eles querem resgatar a casa que um dia abrigou Felicidade, na verdade eles queriam voltar para aquela Felicidade.
Não era a casa de tijolos e portas, janelas e piso rangendo.
Era a casa que abrigava o barulho das crianças brincando; o cheiro de café e o gosto de bolo de fubá; o perfume do travesseiro, que guardava seus segredos; o cheiro do bife que só mamãe sabia preparar; o perfume do dia de limpeza e o cheiro da pipoca.
A casa era a maçaneta da porta rangendo, quando papai voltava do trabalho; ou o pano de chão sobre o tapete, que mamãe insistia em colocar para manter o tapete limpo.
A casa para onde eles querem voltar é feita dos detalhes da torneira pingando, que papai adorava consertar; do batente arranhado pelas escaladas das crianças inquietas; é a casa que abrigou o sonho de família, de felicidade, de prosperidade; a casa paga em muitas prestações, e cada uma delas tinha um gosto de vitória…
Eles querem morar naquela felicidade, e eu também.
Continuo procurando a casa ideal.”
Míriam Morata trecho de Alzheimer recolhendo os pedaços
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Essa, mudando alguns detalhes, é também, a minha história.👊👏👏👏 Também quero a minha casa, onde “mora” a FELICIDADE!:-)
Sou cuidadora
Tudo tão real…quando você diz ,do bife,do cheiro do café,da pipoca e o pano na porta.
Sua história e nossa tbm.Alzheimer seria só saudades do passado…que dó,que dor em pensar em nossos amados ,vivendo em um presente achando estar no passado.
Como gostaria de levala a esse mundo tão distante que ficou em sua memória…memória sem luz e um peito cheio de angústia.💔💔😢
Minha mãe também tem doença deAlzheimer há anos. E vive de um passado, tendo como figura de convívio primeiramente seu pai e depois sua avó e que voltaram a existir na sua vida diariamente.