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Artigo especial – Violência contra o idoso: como identificar, como denunciar, como fazer a sua parte!
- 3 de julho de 2018
- Posted by: Alzheimer360
- Category: Artigos especiais Cuidador Dicas e Cuidados
Como tudo na natureza, a vida humana é feita de fases. Começamos na infância, onde tudo é novidade: onde aprender e sonhar são duas palavras que geralmente se misturam. Depois, passamos pela juventude, uma fase cheia de disposição e vontade. Nessa fase, novas responsabilidades e tambem inseguranças compõem o processo cheio de ônus e bônus que nos torna “donos do nosso nariz”. Os cenários vão mudando ao longo da vida e uma coisa é fato: desde que nascemos, estamos envelhecendo. Num piscar de olhos, percebemos que a terceira idade não está tão distante assim da primeira e da segunda e, sem que possamos notar, chegamos nela. Os fios de cabelo vão ganhando tons de branco e a pele começa a apresentar marcas cada vez menos sutis. O ritmo diminui e a essa altura o aprendizado acumulado pelas experiências vividas é, no mínimo, respeitável.
Na maioria das sociedades antigas, a velhice era sabiamente vista como uma situação dignificante para o homem. O ancião merecia lugar de destaque na sociedade, tinha muita força política e os idosos eram respeitados por sua sabedoria.
No século passado, com a revolução industrial e o progresso da sociedade, houve uma mudança significativa na forma como as pessoas enxergam o envelhecimento: no lugar dos conhecimentos de vida, o homem passa ser valorizado pela sua capacidade de produzir. Ou seja, o jovem, no auge da sua força de trabalho começa a ser mais valorizado perante a sociedade do que o idoso, que não tem mais tanta força produtiva devido às mudanças físicas naturais da vida, das quais ninguem está imune.
Esse pensamento deixou marcas em nossa sociedade, que até hoje exalta exageradamente a juventude, tornando a velhice algo a ser “evitado”: não é por acaso que existem milhares de variedades de produtos de rejuvenescimento e cirurgias plásticas para mascarar o envelhecimento.
Essa falta de compreensão e a desvalorização da velhice em nossa sociedade não é a única causa mas contribui ativamente para um dos quadros mais tristes e urgentes de nossa sociedade e o tema desse nosso artigo especial: a violência contra os idosos, que conta com números alarmantes no Brasil e ao redor do mundo.
Junho foi o mês da prevenção e do debate sobre a violência contra os idosos. E, uma coisa é fato: proteger às pessoas idosas da violência é uma responsabilidade de todos. A conscientização da população sobre esse assunto é urgente!
Muitas vezes o idoso não vai denunciar por diversos motivos (falaremos melhor sobre isso daqui a pouco), e se a comunidade não estiver atenta, o idoso poderá estar sofrendo violência debaixo do nariz de todos – e cada denúncia que deixa de ser feita é uma contribuição silenciosa para que aquilo continue acontecendo.
No artigo de hoje, explicamos como reconhecer os sinais de violência no idoso, no cuidador e em instituições de permanência. Além disso, explicamos como você pode denunciar e fazer sua parte para mudar essa realidade em nossa sociedade.
Temos que fazer nossa parte, é nossa responsabilidade social e um dos princípios da empatia! Além disso, ainda que hoje você não faça parte do grupo de idosos, é uma questão de tempo até que pertença à melhor idade. Qual é o tipo de consciência social que você quer que exista quando isso acontecer?
Lembre-se: grandes mudanças começam com a atitude de cada um de nós! Faça sua parte.
Os números mais recentes dos canais de denúncia
A violência contra os idosos pode (e deve) ser denunciada. Em 2017, os canais de denúncia, como o Disque 100,o aplicativo Proteja Brasil e o portal Humaniza Redes, receberam 142.665 denúncias, mostrando um crescimento às 133.061 denúncias registradas em 2016. Violações contra crianças e adolescentes continuaram ocupando o primeiro lugar da lista de denúncias, como nos últimos anos, e em segundo lugar, as violações contra idosos. Os dados foram divulgados pela Ouvidoria Nacional do Ministério dos Direitos Humanos.
A violência contra pessoas idosas gerou 33.133 denúncias e 68.870 violações, ou seja 23,22%, um aumento de 1,54% em relação ao ano anterior. O aumento do número de denúncias não significa necessariamente que aumentaram os números de casos, mas sim, que as pessoas denunciaram mais em 2017 do que no ano anterior.
91 chamadas por dia são registradas no Disque 100 para os casos de violência contra o idoso. Segundo a Agência Brasil, a maior parte dos casos desse tipo de violência, 76,3%, ocorre na casa do próprio idoso.
1 a cada 6 idosos sofreu tipo de abuso no último ano
O Brasil é um país que se destaca no aumento de idosos nas últimas décadas: o número de pessoas que compõem o grupo da terceira idade cresce todos os anos, devido ao aumento da expectativa de vida da população.
Para se ter uma noção, hoje, no Brasil, para cada duas pessoas com menos de 15 anos, existe uma acima de 60. Além disso, segundo os dados do IBGE, até 2050 a população de idosos no Brasil irá triplicar!
Os números relacionados ao aumento dos idosos tambem são significativos em relação a violência sofrida por eles: a cada 10 minutos um idoso é agredido no Brasil.
Quando falamos em uma escala mundial, os dados de 2017 da OMS (Organização Mundial de Saúde) mostram que 1 a cada 6 idosos sofreu algum tipo de abuso ao longo do último ano, no mundo. Esse número representa um total de 141 milhões de idosos em situação de abuso em todo o planeta!
Os tipos de violência mais comuns entre idosos
Dentre as denúncias de violações contra idosos dos dados da Ouvidoria Nacional do Ministério dos Direitos Humanos, 76,84% envolvem negligência, 56,47%, violência psicológica, e 42,82%, abuso financeiro e econômico (lembrando que pode ocorrer mais de um tipo de violência por denúncia).
Vamos explicar detalhadamente esses tipos de violência e os outros mais comuns contra idosos:
Violência física
É o tipo de violência mais perceptível a olhos nus, apesar de nem sempre ser tão fácil de identificar para quem está de fora, como vizinhos e parentes. Muitas vezes, o idoso pode estar sofrendo violência em seu corpo mas seu cuidador trata de o cobrir com roupas longas, que escondem hematomas.
Por isso, os vizinhos e parentes devem estar sempre atentos aos sons emitidos na casa e devem observar cuidadosamente os sinais presentes no corpo do idoso.
A violência física é o tipo de violência que o idoso sofre maus tratos ou abusos físicos. A violência física inclui empurrões, tapas, beliscões, socos. Infelizmente, existem casos de agressões feitas com objetos que machucam como estiletes, cintos, facas e até mesmo armas de fogo.
Negligência/abandono
É o tipo mais comum de violência em idosos. É um tipo de violência cruel e, muitas vezes, silenciosa. A negligência ocorre por falta de cuidados básicos para a proteção física, social e emocional do idoso.
Entram nesse grupo a privação de remédios, falta de proteção contra o frio ou calor, negligência com a higiene ou alimentação da pessoa. Pode acontecer o abandono do idoso também, que é considerada a forma mais extrema de negligência com aquele idoso.
Violência sexual
A violência sexual pode ser praticada contra idosos de qualquer sexo. Essa é a violência que obriga o idoso a fazer, presenciar ou participar de alguma forma de uma atividade sexual.
Econômico-financeira e patrimonial
É a violência que ocorre quando alguém usufrui de forma ilegal ou imprópria dos bens do idoso. O uso não consentido de seus recursos financeiros e do seu patrimônio tambem entram nesse tipo de violência.
Autoinfligida e autonegligência
Nesse tipo de violência o diferencial é que ela não acontece por causa de outras pessoas, mas dela mesmo. Ela acontece quando a conduta da própria pessoa idosa ameaça a saúde dela mesma ou sua segurança e quando se recusa a receber os cuidados que precisa.
Violência psicológica
Qualquer tipo de menosprezo, preconceito, desprezo e discriminação. Inclui agressões verbais, gestuais ou qualquer ação que for feita para humilhar, assustar, aterrorizar ou isolar a pessoa do convívio social. Esse tipo de violência é o segundo mais comum e pode gerar solidão, depressão, tristeza e sofrimento mental para o idoso.
Violência em instituições de permanência para idosos
De acordo com a OMS, os principais atos de violência registrados em instituições para idosos, como asilos, são:
- Restringir fisicamente os idosos;
- Privar os idosos de dignidade (por exemplo, mantê-los com uma roupa suja, ou molhada);
- Fornecer cuidados insuficientes de forma intencional (por exemplo, permitir que eles desenvolvam feridas que podem ser prevenidas);
- Medicar em excesso ou não medicar os residentes;
- Negligência e abuso emocional.
Fique atento!
É muito comum que o idoso não fale sobre os abusos e agressões que sofrem. Nos casos de um idoso com Alzheimer, isso é mais comum ainda, afinal, muitas das vezes a pessoa já está muito confusa e sem compreender direito a situação.
Ou seja, os familiares, amigos e vizinhos tem que estar sempre muito atentos às expressões faciais, gritos, queixas e se o doente apresenta machucados, roxos ou arranhões recentes.
Por que o idoso não denuncia?
O idoso não denuncia às agressões por diversos motivos possíveis: em muitos casos, ele está vulnerável fisicamente ou financeiramente, em outros possui laços afetivos fortes com o agressor e por isso não faz a denúncia (vale lembrar que a maioria dos casos de violência contra idosos acontece no ambiente doméstico).
Vergonha, medo, dependência financeira, depressão e até mesmo proteção do agressor são motivos que levam os idosos a manterem silêncio quanto à violência a qual são submetidos.
Se for um idoso com Alzheimer é provável que ele não compreenda a dimensão da agressão que está sofrendo e, em alguns casos, pode ser que ele até fale sobre às agressões com outras pessoas mas, elas podem não acreditar nele por conta da demência. Portanto, se houver algum comentário do doente relacionado à maus tratos, trate de investigar!
Há um parêntese: é comum ouvir relatos de que o cuidador está “fazendo dele um prisioneiro”, ou até acusar o familiar de bater nele, por exemplo, quando na verdade não está ocorrendo agressões. As queixas do doente, por mais improváveis que sejam, não devem ser ignoradas, pelo contrário, devem ser investigadas com muita atenção! O doente pode estar pedindo socorro. É importante estar atento e, caso perceba alguns dos sinais, denuncie o caso às autoridades responsáveis.
Para te ajudar a identificar se este idoso está sofrendo agressão, convidamos o médico geriatra Dr. Leandro Minozzo para ensinar a identificar os sinais de maus tratos aos idosos.
Para complementar, seguem os pontos propostos pelo Caderno de Violência Contra a Pessoa Idosa, familiares, amigos e vizinhos podem identificar se o idoso está sofrendo violência:
- Ter medo de um familiar ou de um cuidador profissional;
- Não querer responder quando se pergunta, ou olha para o cuidador/familiar antes de responder;
- Mudança de comportamento quando o cuidador/familiar entra ou sai do espaço físico onde se encontra;
- Manifesta sentimento de solidão, diz que precisa de amigos, família, dinheiro, etc.;
- Expressa frases que indicam baixa autoestima, como: “não sirvo pra nada,” “só estou incomodando”, “sou um peso”;
- Mostra respeito exagerado ao cuidador/familiar que vive com ele.
Sinais de que o cuidador pode ser um possível agressor
- Apresenta considerável nível de estresse ou sobrecarga nos cuidados com a pessoa idosa;
- Dificulta ou evita que o profissional e a pessoa idosa conversem em particular;
- Insiste em contestar as perguntas dirigidas à pessoa idosa;
- Põe obstáculos para que se proporcione no domicílio a assistência necessária à pessoa idosa;
- Não está satisfeito em cuidar da pessoa idosa;
- Mostra descontrole emocional, fica sempre na defensiva;
- Mostra-se excessivamente “controlador” nas atividades que a pessoa idosa realiza na vida cotidiana;
- Culpabiliza o idoso por tudo que acontece, inclusive pelas sua condição de saúde.
Violência contra o idoso é crime!
A violência contra o idoso é crime com penalizações previstas na lei. A advogada parceira do Alzheimer360, Michelly Siqueira, fala um pouquinho sobre o assunto no vídeo abaixo.
Estresse do cuidador e violência contra o idoso
Ser cuidador de um idoso, principalmente com Alzheimer, pode ser muito estressante para quem assume essa missão de intensa doação. Existem sintomas e fases da doença que exigem uma dedicação exclusiva do cuidador, e se ele não se cuidar corre sérios riscos de sofrer com o “estresse do cuidador”.
Ou seja, o estresse do cuidador pode acontecer com qualquer pessoa que se propôs a cuidar de uma pessoa com Alzheimer. No entanto, existem formas de driblar esta situação e melhorar a qualidade de vida, evitando que esse cuidador estressado desconte no idoso e pratique violência contra ele. Afinal, nada justifica a violência.
Se você conhece algum cuidador que tem sintomas como: cansaço, irritação, insônia, perda ou ganho de peso, vontade de se isolar de tudo e de todos, aconselhe-o a buscar ajuda!
É importante que o cuidador pratique alguma atividade física, tenha a quem pedir ajuda quando estiver muito cansado (para outros membros da família ou amigos próximos, que tambem devem se conscientizar sobre essa situação de estresse), que ele tenha algum hobby, frequente grupos de apoio de cuidadores de pessoas com Alzheimer e, se possível, faça terapia.
Além disso, tanto o cuidador, quanto os familiares devem se informar o máximo sobre o Alzheimer para que aprendam a lidar melhor com o idoso e saibam o que esperar das próximas fases, dos sintomas e dos tratamentos. Afinal, quando sabemos onde estamos pisando e qual o melhor caminho seguir, às surpresas são evitadas e o estresse tende a diminuir.
Denuncie JÁ!!!!!
Qualquer tipo de violência deve ser denunciada. Vamos lutar juntos para que os idosos sejam protegidos: é responsabilidade de todos nós enquanto sociedade!
Para isso, Disque 100! É um serviço gratuito e que funciona 24h por dia, da Secretaria dos Direitos Humanos. A identidade de quem denuncia é sempre preservada.
Se preferir, faça a sua denúncia no portal http://www.disque100.gov.br
Você tambem pode denunciar pelo Humanizaredes, através do site: http://www.humanizaredes.gov.br/
A denuncia tambem pode ser feita pelo aplicativo Proteja Brasil. Saiba mais em: http://www.protejabrasil.com.br/br/
Para se informar sobre o Alzheimer e consumir conteúdos de qualidade ministrados pelos melhores profissionais do Brasil especializados na doença, clique aqui e acesse a Plataforma de Ensino Online do Alzheimer360.
Parabéns,ótimas informações q estão nos orientando ,abracos
Tenho um trabalho do curso para fazer, mas não encontro a resposta, em caso de abuso sexual ao idoso, e no caso eu seja a cuidadora, se eu fizer a denucia tudo pode cair sobre mim, como eu faço para denunciar nesse caso ?