Blog
Conheça a Gavetaria: Uma arte inovadora feita por um homem com Alzheimer
- 4 de dezembro de 2017
- Posted by: Alzheimer360
- Category: Arte e Cultura
Do Alzheimer, nasceu uma arte inovadora! Dessa arte inovadora, nasceu uma grande alegria de viver em seu artista!
Diagnosticado com Alzheimer há 5 anos, o ex-economista Osvaldo Rodrigues Cavignato se mantém ativo e ajuda a pagar o seu tratamento por meio de uma arte inovadora, em que ele é o artista!
Após participar de um estudo sobre Alzheimer e ser indicado a inserir o artesanato em sua rotina, Osvaldo iniciou os trabalhos na criativa Gavetaria.
A ideia consiste em fazer gavetas personalizadas, sob encomenda, com uma variedade enorme de temas! O trabalho é realizado pelo próprio Osvaldo, com a ajuda de seus filhos.
Como ele já tinha a marcenaria como hobby antes do Alzheimer, a ideia de ter uma Gavetaria veio naturalmente para a filha, cuidadora e jornalista Deise Cavignato.
Ao mesmo tempo em que encontraram uma forma de mantê-lo ativo, a atividade conta como um estímulo cognitivo poderoso e o retorno financeiro ajuda a financiar o tratamento!
Convidamos Deise Cavignato para bater um papo com a gente e inspirar outras pessoas a adotar um tipo de arte na rotina do doente de Alzheimer.
Se inspire com a entrevista completa:
Há quanto tempo seu pai foi diagnosticado com Alzheimer? Como foi e está sendo esse processo?
Ele vem apresentando alguns sintomas desde quando se aposentou, há mais ou menos uns 7 anos, mas ele foi diagnosticado faz um pouco menos de 5.
Nós já desconfiávamos não apenas pelo esquecimento de coisas pequenas ou médias, mas principalmente porque houve uma mudança de comportamento. Uma vez ele estava usando a serra Makita para cortar madeira e ele tirou a trava de segurança porque estava “atrapalhando” e ele cortou a coxa, teve que levar quase 40 pontos.
Meu pai foi sempre cuidadoso, então começamos a nos questionar se tudo o que estava acontecendo era normal. Quando soubemos pela boca do médico foi só uma confirmação do que já tínhamos certeza que ele tinha.
A partir do diagnóstico passamos a tentar controlar o problema. Além dos remédios que ele passou a tomar, começamos a fazer exercícios físicos (porque ele ficou muito apático, só queria ver televisão e dormir) e mudamos os hábitos alimentares, estudamos por conta própria alguns alimentos que poderiam ser bons para ele e introduzimos no dia a dia (por exemplo, óleo de coco, açafrão da terra, azeite extravirgem) para que a saúde a médio e longo prazo ficassem mais estáveis.
Você que cuida do seu pai? Conta um pouquinho sobre essa parte dos cuidados.
Sou eu que cuido durante a manhã e à tarde, sou a única filha que trabalha de casa, então tenho esta possibilidade. À noite deixo com outra irmã para que eu passa fazer cursos e ir na academia. De final de semana também revezamos de vez em quando. Nós não temos o apoio de cuidadores, mas nos viramos bem com o que temos.
Como surgiu a ideia da Gavetaria? Seu pai já tinha interesse por arte antes do Alzheimer?
Participamos de um estudo no Hospital das Clínicas que apresentava algumas alternativas aos cuidadores que ficavam permanentemente com o portador do Alzheimer. Lá eles disseram que era interessante incluir na rotina um tipo de artesanato.
Como o meu pai já estava acostumado a trabalhar com madeira por hobby (foi ele quem fez os armários do meu quarto e do meu irmão, um móvel da sala, a casinha das cachorras…) e tínhamos algumas gavetas que o meu pai recolhia em caçambas porque achava que um dia usaria, então fui procurar na internet o que era possível fazer com elas. Aí encontramos uma forma de mantê-lo ativo.
As gavetas são facilmente encontradas em caçambas, bota-fora de vários bairros. O que é ótimo porque essas peças seriam descartadas e parariam em um aterro sanitário, então além de ajudá-lo no tratamento do Alzheimer, salvamos um pouquinho do meio ambiente.
Em média cada gaveta demora uma semana para ficar pronta, já acabamos uma em duas horas, mas já teve uma que durou três semanas.
Nós vendemos as peças em um site e o dinheiro é revertido no tratamento do meu pai. Cobramos pouco porque o importante é mantê-lo ativo e não ficarmos ricos.
Uma gaveta pequena pode sair por R$ 45 e a grande por R$ 150, tudo depende do que colocaremos em cada gaveta. Nós desenvolvemos um projeto para cada gaveta e quando recebemos encomendas vemos quais são as exigências, se o comprador quiser um puxador comum o valor é de R$ 2, se quiser for um puxador estilizado, de porcelana, cada um custa R$ 20.
Os nossos sites são estes: https://sites.google.com/view/gavetaria/
https://gavetariashop.lojaintegrada.com.br/
Como a Gavetaria ajuda no tratamento? Quais são os benefícios que você mais tem notado?
Após começar esse trabalho com o meu pai tive uma percepção de benefícios e melhora na qualidade de vida dele, por exemplo, ter um motivo para acordar foi a principal descoberta que tivemos.
Ele não quer sair da cama e todo dia pela manhã reclama que não quer se levantar, mas as gavetas deram um motivo para ele “se sentir útil”, como ele mesmo diz. Então ele gosta de lixar, pintar (o que ajuda na coordenação motora), pensar um fundo diferente, já fizemos gavetas com fundo de tecido, de casca de árvore, de foto, de adesivo, de quadrinhos, de tela de pintura, com carimbos, somos bem criativos.
As mudanças mais complicadas para ele neste momento são apatia (não quer se levantar da cama, só quer dormir), lentificação (tudo está mais lento, caminhar, comer, pensar…), falta de compreensão de narrativas (não entende o que está acontecendo em filmes, relê várias vezes a mesma página do livro) e coordenação motora (por exemplo: dificuldade de subir a escada – segura demais no corrimão, trocar camiseta – que fica embolada nas costas) e de certa forma, esta atividade combate muito todas essas coisas.
Quais dicas você daria para um familiar de uma pessoa com Alzheimer que quer tentar introduzir a arte como parte do tratamento não-farmacológico?
Ninguém pode se deixar abater pela doença de alguém que ama. Tem que pensar em alternativas, não vai ser uma solução, não encontraremos a cura, mas melhoramos a qualidade de vida.
Tem que ser algo que a pessoa gostaria de fazer, que esteja relacionado com algo que ela sinta paixão.
Comece aos poucos, dê coisas fáceis e veja como ela se comporta, se der para dificultar um pouco, coloque mais coisas para ela fazer, assim ela poderá progredir no trabalho, caso contrário, opte por algo bem fácil.
Coloque músicas que ela goste enquanto ela estiver fazendo a atividade, deixe o ambiente bem iluminado, tente fazer com que este exercício não seja muito longo e cansativo, porque isso pode desestimular e esteja sempre por perto ao longo do trabalho.
Eu concordo que tudo depende da fase em que a pessoa se encontre, se estiver em um estágio avançado dificilmente poderá ter um tipo de hobby como este, no entanto, temos que acreditar que é possível ajudá-la de alguma forma e manter a esperança.
Quais são as maiores lições que você têm tirado dessa situação?
A maior lição é que sempre é possível melhorar a qualidade de vida.
Eu aproveito este tempo para ficar mais com o meu pai, estar próxima dele e ajudá-lo no que for preciso. Foi como encontrar uma criança em quem deveria ser um adulto, um filho em quem deveria ser um pai.
E não vejo isso de forma negativa, estou ao lado dele para o que for preciso assim como ele esteve do meu em toda a minha vida.
Muito interessante e inspirador, né?
Vale lembrar que existe um profissional especializado em desenvolver terapias personalizadas baseadas na arte, que é o arteterapeuta. A arteterapia tem ajudado muitos pacientes de Alzheimer, estimulando o doente cognitivamente e diminuindo os sintomas. Na Plataforma de Ensino Online do Alzheimer360 tem um vídeo muito interessante sobre Arteterapia, em que os profissionais explicam como funciona, quais os principais conceitos e dão dicas práticas para você começar. Para acessar a plataforma, clique aqui.
Parabéns pela iniciativa…sim, cada vez que inserimos um afazer na rotina deles, ganha-se em qualidade de vida.
Minha sogra sempre fazia tricô, crochê e era excelente cozinheira…esqueceu tudo. Procuro inserir o tricô para passatempo, as vezes gosta, lembra os pontos básicos, outras vezes se cobra por não sair um trabalho perfeito.
Tem 80 anos, Alzheimer à 4 anos.
Dividimos os cuidados entre familiares, não temos cuidadores, pois ela caminha.
Sabe-se que precisa paciência…mas no momento que existe comprometimento de todos, fica mais fácil.
Que linda essa historia! Parabéns
Meus pai também tem Alzheimer e também diagnosticado a uns 5 anos…
Ele faz mantas com um aparelho chamado tear, em que ele tem que passar a linha de um lado para o outro e toda vez que muda o lado, baixar ou levantar a madeira para poder dar o nó… No inverno até vendemos algumas mantas e agora no natal ele deu de presente para os filhos… Se deixar ele fica fazendo o dia inteiro! Quando acaba a linha ele não tem muita paciência de esperar minha irmã vir trocar kkkkk
Além de ocupar a cabeça dele, é um ótimo exercício para memória…
E realmente é como estava descrito no artigo, algumas mantas ele demora uma semana, outras se deixar em um dia ele faz, mas tbm já demorou duas semanas para fazer uma…
Parabéns a família e a reportagem…
Gostei do que li. Espero poder continuar. Pois essa é não só a minha vontade como a minha necessidade. Obrigado
Gostei imensamente desta reportagem. Mamãe era exímia costureira. Mas não conseguimos muita coisa, pelo temperamento. Mas ela gosta de ler pequenos trechos e de jogos com figuras geométricas. Parabéns a essa família e obrigada.
Adorei a reportagem. Parabéns à família.
Meu pai teve Alzheimer. Quando foi diagnosticado os médicos receitaram alguns medicamentos que não fizeram bem. Inclusive deixando mais apático, sonolento e literalmente fora do ar, deixou até de andar e se alimentar. Por conta própria tirei os medicamentos (respiridona, clonazepan, donozepila, acho ). Meu pai voltou a andar, ficou mais atento e voltou a se alimentar sozinho… Ele faleceu tem 1 ano e meio de problemas com com as vias biliares. Cuidamos dele em casa com todo carinho e fazíamos questão de estarmos sempre juntos, inclusive levá-lo a passear sempre. Sinto tanta saudades. Não é fácil cuidar …, ter muita paciência e muito amor.
Linda estória. Mas fico triste pois não consigo acrescentar nada na vida de minha sogra. Ela é muito brava e não aceita nada que falamos ou sugerimos. Toda manhã é um sufoco: chorro, palavras feias ditas em tons altos, estórias tristes, tem dias que fica até agressiva. Depois do almoço isso melhora. Muito difícil. Diagnóstico há 2 anos e meio. Gostaria de algumas sugestões. Obrigada.
Excelente! ! Lindas as gavetas, linda a arte do seu pai e emocionante o carinho e o seu exemplo, para todos nós. Parabéns! !
Minha mãe é portadora da Doença de Alzheimer , já 5 anos, e no ano passado iniciei um trabalho de artesanato com ela, que adora desenhar bonecas e flores, em tudo ela coloca florzinha, também faz colagens e bordado. Criei uma página no Facebook @cuidaridosocomarte e no YouTube cuidar:idoso com arte, bem estar e sustentabilidade, com a intenção de mostrar um pouco do convívio e estimular as pessoas a não abandonarem seus idosos.
Sou cuidadora da minha mãe ♡ e alguns finais de semana ela fica um pouco com meus irmãos.
Estou fazendo um curso de arteterapia online e vou acessar o site de vocês pra acompanhar o de vocês.
Grande abraço! Dê os meus parabéns ao seu pai artista♡